Startups e centros de ensino já estão explorando o universo virtual; para especialistas, tecnologia pode gerar mais concentração e conexão dentro da sala de aula
Imagine que você é um estudante de astronomia. Em uma aula sobre a Via Láctea, o professor leva a turma para pisar no solo de Marte, andar pelos anéis de Saturno e conhecer de perto Plutão. Você e seus colegas podem ver cada detalhe e sentir que fizeram, de fato, uma viagem espacial, sem sair da sala de aula.
Essa é uma das aplicações possíveis para o metaverso na educação. Desde outubro do ano passado, quando o Facebook anunciou a mudança de nome para Meta, esse foi um dos principais setores a se agitar com a novidade. Pesquisadores da área já imaginavam que uma convergência das tecnologias estava para acontecer, e o processo se acelerou com a pandemia e a redução das aulas in loco. Agora, com o retorno das atividades presenciais, o mercado está experimentando novos formatos e modelos de ensino.
Medicina
No Brasil, iniciativas pioneiras, como a MedRoom estão tomando a frente desse movimento. A edtech fundada em 2016 oferece treinamentos para o ensino médico com óculos de realidade virtual. Sua plataforma conta com um laboratório de anatomia humana, um consultório para simulação clínica de atendimento a um paciente e uma central de lâminas para exames.
O biólogo Vinicius Gusmão, CEO e cofundador da startup, diz que uma das vantagens de uma aula no laboratório virtual é poder fazer uma navegação anatômica realista em um corpo humano vivo, o que não seria possível em uma sala de aula comum – onde a observação costuma ser feita com cadáveres ou manequins.
“O metaverso apresenta uma forma diferente de interação com o conteúdo, mais imersiva do que o formato bidimensional do computador”, afirma. “A ideia é possibilitar atividades que não seriam possíveis numa aula presencial ou no ensino remoto.” Outro exemplo dado pelo biólogo é o treinamento de ressonância magnética. Tradicionalmente, a aula tem como base um equipamento que custa milhões de dólares e envolve radiação, o que pode causar riscos à saúde dos alunos.
Para Gusmão, a realidade virtual surge para tornar o aprendizado mais seguro e produtivo. O melhor formato, diz, seria o híbrido, misturando aulas presenciais e virtuais, com aplicações que “façam sentido”.
Programação de dados
A Digital House, startup de cursos intensivos focados em programação e dados, criada em 2016, tem levantado a mesma discussão: “Qual é o verdadeiro valor de colocar os óculos de realidade virtual para assistir a uma aula?”, questiona o CEO Sebastian Mackinlay. “Isso toma tempo e investimento, precisa ser um conteúdo que tenha valor.”
Na empresa, a experiência tem sido incluída na grade de maneira pontual por alguns professores. “Essa primeira etapa é de experimentação, para desmistificar o tema e entender como as coisas podem ser feitas, quais são as limitações”, comenta. Segundo o empresário, os alunos têm dado um retorno positivo e manifestado interesse pelo novo conceito.
Desenvolvimento de produtos
No Centro Universitário Senai Cimatec, em Salvador, a realidade virtual tem sido inserida no curso de desenvolvimento de produtos, para graduandos de engenharia, e também em workshops para diversos níveis de formação.
Para Ingrid Winkler, pesquisadora líder do projeto, ao mesmo tempo em que há um realismo no metaverso, há também um aspecto de fantasia, de “não precisar obedecer as leis da física”, o que proporciona um outro olhar sobre os assuntos. Já em comparação com o ensino remoto, o ambiente gera mais concentração e conexão dentro da sala de aula.