Um terço dos docentes que ensinam professores não tem formação no ramo educacional

A maioria tem apenas doutoramento e formação académica ajustada às unidades curriculares que leciona, concluiu um estudo do Edulog

Um terço dos docentes que ensinam professores não tem formação no ramo educacional

Um terço dos docentes responsáveis pela Formação Inicial de Professores não tem formação no ramo educacional e muitos dos que têm formação académica ajustada falta-lhes experiência de dar aulas no ensino obrigatório, revela um estudo do Edulog.

Uma equipa de investigadores analisou as caraterísticas académicas e profissionais dos docentes que asseguram a formação inicial de professores dos ensinos básicos e secundário em Portugal e concluiu que a maioria tem doutoramento e formação académica ajustada às unidades curriculares que leciona.

No entanto, um em cada três professores não tem formação no ramo educacional e os perfis académicos estão desajustados à natureza de algumas componentes de formação, segundo o estudo “Perfil académico e profissional de professores do ensino superior que asseguram a Formação Inicial de Professores”, coordenado pela professora Carlinda Leite, da Universidade do Porto.

Existe um “grupo de pessoas que lecionam matérias e não têm a devida formação, mas a esmagadora maioria tem”, disse à Lusa David Justino, membro do Conselho Consultivo do Edulog, entidade que financia o estudo hoje divulgado.

No entanto, entre os professores com formação adequada há muitos a quem lhes falta “experiência de dar aulas no ensino básico ou secundário”, sublinhou o ex-ministro da Educação, explicando que essa falha faz com que os cursos acabem por ser “mais teóricos e menos práticos do que seria desejável”.

Os professores com experiência em dar aulas no ensino obrigatório são em “número reduzido”, lê-se no estudo que analisou os 148 cursos existentes em instituições públicas e privadas acreditados pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES).

“Há cursos com qualidade e outros sem qualidade”, sublinhou David Justino, defendendo, por exemplo, a necessidade de se elaborar um perfil que evidencie que formação deve ter quem prepara educadores de infância, um professor do 1.º ciclo ou do ensino secundário.

A autonomia científica e pedagógica das instituições de ensino superior permite-lhes desenhar os seus cursos, que depois são avaliados e acreditados pela A3ES, mas para David Justino falta a definição de um perfil comum que se pretende dos professores.

“Penso que deveria ser o Ministério da Educação a fazer um esforço no sentido de definir esses perfis, dizendo quais as capacidades, características e conhecimentos que são esperados dos professores. Era fundamental que existisse uma base comum, até para que a avaliação da A3ES fosse mais eficaz”, defendeu, lembrando que nos finais dos anos 90 foi desenhado um perfil, mas “está já completamente ultrapassado”.

No que diz respeito às atividades de investigação, o estudo do Edulog mostra que a maioria dos docentes tem ligação a centros de investigação, mas o volume de publicações de artigos é, regra geral, baixo.

Também no campo da investigação, é reduzida a publicação de artigos científicos em revistas indexadas, sendo mais expressiva no caso dos docentes ligados ao ensino universitário do que ao politécnico.

À Lusa, David Justino salientou que o estudo hoje divulgado “serve como ponto de partida para uma reflexão mais alargada sobre a importância da Formação Inicial de Professores”, tendo o Edulog, da Fundação Belmiro de Azevedo, apresentado várias recomendações.

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