Ferramentas digitais que aproximam as universidades da indústria

Formação e Competências

Simuladores, internet das coisas, big data e softwares diversos se tornam principais instrumentos de ensino nas faculdades

Big data, internet das coisas e inteligência artificial (IA) são algumas das ferramentas digitais que invadiram salas de aula dos cursos de Engenharia. As instituições de ensino tiveram de se adaptar às inovações tecnológicas em sintonia com a indústria, que passou cada vez mais a utilizar essas soluções em rotinas profissionais. “Desde 2012, as novas tecnologias digitais começaram a ser inseridas na indústria. Isso tem gerado um reflexo grande nas escolas de Engenharia, porque as metodologias de ensino não podem ser mais as das décadas de 1990 e 2000. A mudança vem acontecendo ao longo dos últimos sete anos e é muito dinâmica. É um desafio sincronizá-la ao ensino”, explica Luís Henrique Santos, coordenador do curso de Engenharia Aeronáutica da PUC-MG.

Santos conta que mesmo os alunos iniciantes já têm acesso a tecnologias como big data e internet das coisas no curso, por meio de um projeto em que precisam fabricar uma aeronave em que os comandos são acionados pelo celular. “Ela precisa ser fabricada do zero, com asas e fuselagem; e o aluno tem de embarcar um dispositivo para ‘conversar’ com o celular. Pelo aparelho, ele liga o motor e aciona os comandos dessa aeronave. São as primeiras disciplinas em que se faz uso do big data.”

Big data é o conjunto de técnicas e ferramentas que permitem a análise dos dados, que por si só são números e não geram informação. A internet das coisas, por sua vez, envolve sensores que enviam esses dados para a nuvem (ambiente digital) e permitem que os dispositivos conversem entre si. A inteligência artificial ocorre quando uma máquina consegue tomar decisões a partir da programação de algoritmo.

No caso do projeto em que os alunos criam uma aeronave, os sensores mandam os dados para o software, que os trata e gera gráficos para entender como o avião está funcionando, se precisa de alguma manutenção, por exemplo. “São bases conceituais aplicadas em grandes indústrias. Grandes fabricantes de motores têm a mesma filosofia de funcionamento desse aviãozinho. Sensores mandam dados para a nuvem e os engenheiros nas bases conseguem avaliar e tomar decisões voltadas para o âmbito da manutenção. São tecnologias que conseguem fazer algo simples, mas ao mesmo tempo muito grande e relevante”, complementa o coordenador da PUC-MG.

Ainda dentro da Engenharia Aeronáutica, a tecnologia colabora com o uso dos simuladores, por meio de softwares. Santos diz que dessa forma consegue “colocar os alunos em frente a diferentes tipos de aeronaves”, o que seria inviável se tivesse de ser feito no espaço físico. “A simulação permite navegar em um espaço muito grande, de uma forma simples. Na minha sala de aula, cada aluno tem seu computador, acessa o simulador e no ‘Datashow’ explico cada painel e sua especificidade. É um dinamismo muito grande.”

Perto do real

Ana Paula Bacelo, coordenadora do curso de Engenharia de Software da Escola Politécnica da PUC-RS, afirma que as atividades desenvolvidas nos laboratórios permitem uma vivência próxima da realidade da indústria. “Muitos dos experimentos, totalmente controlados e instrumentados, possibilitam aos estudantes o tratamento dos dados e entendimento dos conceitos de forma integrada.”

Mais do que projetar a realidade, esses instrumentos permitem que os estudantes construam conhecimento prático sem correr riscos. Simuladores possibilitam que alunos façam voos e explorem cavernas, no caso dos cursos de Engenharia de Minas, por exemplo. “A tecnologia está difundida nas mais diversas áreas: onde há riscos, a coleta de dados pode ser feita por robôs e dispositivos. Na Engenharia Civil, dá para usar sonda para fazer perfuração sem risco de furar uma estrutura, andar pela obra antes de construir, entender a luminosidade. Hoje não faz sentido ter Engenharia sem aplicações tecnológicas”, diz Claudiney Vander Ramos, professor de Engenharia de Software da PUC-MG.

Estudante consegue ir de ‘usuário para desenvolvedor’

“Antes do curso, era usuário de tecnologia. Agora, consigo ver pela visão do desenvolvedor”, diz Eduardo André Soares, de 22 anos, do 7.º semestre de Engenharia de Software. “Não penso só em como um app funciona, penso qual problema veio resolver, qual impacto vai ter no mundo, como essa tecnologia se diferencia das outras.”

Focado na codificação de projetos, o curso, segundo Soares, mescla teorias mais acadêmicas com a abordagem moderna. Ele aprendeu algoritmos clássicos, desenvolveu trabalhos em Java e fez codificações em plataforma da Google.

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