Fecha-se uma porta, abre-se uma janela: a tecnologia como oportunidade para a mudança de carreira

Filipa-Pires

O que por vezes é considerado pela sociedade um infortúnio, pode ser o início de uma longa e desafiante jornada profissional e a área de Tecnologia da Informação (TI) tem provado estar à altura.

O desafio no universo tecnológico começou numa sala do Instituto do Emprego e Formação Profissional, quando pela primeira vez me apresentaram um programa de formação na área de testes de software, com utilização de SAP (sistema de gestão empresarial, ERP), na altura para “um projeto na área das energias para um cliente francês”, a 90 km de casa, no Fundão. Sem saber o que me esperava, arrisquei e aceitei o desafio. Com uma licenciatura em Recursos Humanos e um curso de formação nesta área, poucos meses depois dava os primeiros passos como tester de software no setor da energia. Perante uma situação de desemprego em plena crise e após uma experiência de seis anos numa empresa familiar, foi a tecnologia que me ofereceu uma verdadeira oportunidade de mudança.

O que por vezes é considerado pela sociedade um infortúnio, pode ser o início de uma longa e desafiante jornada profissional e a área de Tecnologia da Informação (TI) tem provado estar à altura de grandes mudanças. O mais recente relatório da Randstad – Randstad Sourceright’s Global In-demand Skills Report –, de final de novembro, revela que as áreas com mais vagas de emprego no nosso país são exatamente áreas tech, como por exemplo Business Intelligence, User Interface, Cibersegurança, Computação em Cloud ou Big Data.

Mas afinal o que é um tester de software? Com o exponencial aumento e desenvolvimento de aplicações, as empresas têm valorizado, cada vez mais, a qualidade dessas aplicações. Assim, um tester tem como responsabilidade descobrir falhas, reportar erros, verificar se os mesmos foram corrigidos, garantido uma melhor entrega do produto de acordo com as especificidades do cliente.

Na empresa que integrei inicialmente, tive acesso a formação de língua francesa, formação em SAP e na área de testes de software com a introdução ao ciclo de vida, objetivos, planeamento, monitorização, implementação e execução de testes, bem como metodologias e ferramentas de testes. Há quatro anos, abracei um novo desafio, numa empresa multinacional francesa no setor da banca. Apoiada pela organização, pelas chefias diretas e pela equipa, evoluí para Team Lead, onde assumo funções de gestão de recursos humanos, gestão de tarefas e relatórios, facilitadora entre as equipas do Porto e Paris, entre outras.

Na tecnologia, todas as competências valem

Na verdade, mudar de carreira é uma realidade cada vez mais normalizada. As novas gerações, ao contrário dos nossos pais, já não procuram um emprego para a vida. No meu caso, foi a situação de desemprego que me mostrou a oportunidade de mudança de rumo profissional e noutros tantos poderá ser o cansaço, a desmotivação ou a falta de reconhecimento por parte dos empregadores.

Sempre foi fácil? Claro que não. Foram anos de constantes aprendizagens individuais e coletivas, esforço, dedicação e resiliência. A reconversão de carreira só é possível com empenho individual, mas também com um plano de formação desenhado pela organização para a integração neste novo mundo de TI e alinhado com a própria realidade do projeto. Além disso, acredito que os pilares para o sucesso da integração de novos membros, principalmente aqueles que não têm background na área, são a entreajuda, o apoio e a partilha de conhecimento entre todos.

Ao contrário do que se possa pensar, as áreas de formação não ligadas a TI, não são sinónimo de bloqueio ou exclusão. Licenciei-me em Recursos Humanos e, atualmente, tenho na equipa elementos com formação em Engenharias, Línguas, Economia, Gestão, Psicologia, entre outras. Na função de tester de software, as experiências anteriores, os conhecimentos adquiridos e formação académica conferem-nos abordagens e visões bem distintas, mas que aportam valor para desempenhar a função com excelência. Por exemplo, um bom profissional nesta função deve ter pensamento crítico, pensar “fora da caixa”, ser organizado, perspicaz, ter atenção ao detalhe e à qualidade, características transversais a qualquer área.

O caminho nem sempre é fácil. Ao longo do meu percurso, conheci pessoas que ingressaram na área, mas que não se reviram na função ou simplesmente não se adaptaram. O mais importante é dar uma oportunidade à mudança, pois pode realmente ajudar a dar uma reviravolta na carreira.

Fonte: https://eco.sapo.pt/opiniao/fecha-se-uma-porta-abre-se-uma-janela-a-tecnologia-como-oportunidade-para-a-mudanca-de-carreira/

 

Partilhar