O relatório “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal” revela que a pandemia dificultou a entrada dos jovens no mercado de trabalho e o ensino à distância provocou perdas de aprendizagem que podem ser irreversíveis.
Na última década, o salário médio só aumentou para os menos qualificados, segundo a edição do “Estado da Nação: educação, emprego e competências em Portugal” – o relatório anual da Fundação José Neves.
Entre 2011 e 2019 os trabalhadores somaram perdas no salário real, ter um canudo ainda garante um ordenado melhor, mas a diferença é cada vez mais curta.
Em comparação com os restantes Estados-membros, Portugal é dos que paga pior e tem menor produtividade.
Ainda vale a pena estudar?
O salário médio em 2019 ficou claramente abaixo do de 2011, mas um canudo aumenta em 16% a probabilidade de encontrar emprego e em 50% a possibilidade de estarem entre os 40% da população que ganham mais.
A má notícia é que o salário médio, nestes dez anos, só aumentou para quem tinha o ensino básico. Uma subida na ordem dos 5%, puxada pelo aumento do salário mínimo.
Quem tem o ensino superior perdeu 11% do rendimento, quem concluiu o secundário, viu o salário médio cair 3% em dez anos.
Para os jovens que acabam de entrar no mercado de trabalho ainda foi pior, com perdas entre os 15%, nos licenciados, e os 22% entre os doutorados.
Alguns acabam por ir trabalhar para o estrangeiro, onde vários países oferecem melhores condições.
Em 2019, antes da Covid-19, 13 países da União Europeia pagavam melhor aos trabalhadores com o secundário do que Portugal aos trabalhadores com o ensino superior. Em cinco Estados-membros até os menos qualificados recebiam mais que os trabalhadores universitários em Portugal.
Em paridade de poder de compra, o rendimento anual médio em 2019 foi o 7.º mais baixo da União Europeia.
E quanto à produtividade?
Relatório assinala ser essencial para subir os salários, mas refere que em Portugal é cada vez menor, face à média europeia. Em 2019, foi o sexto país com a menor produtividade e nem as qualificações dos mais jovens ajudaram a economia.
Carlos Oliveira, presidente executivo da Fundação José Neves, aponta uma conclusão relevante: “Que as gerações mais qualificadas e mais jovens só começam a ter impacto na produtividade de uma empresa quando representam, pelo menos, 40% da força de trabalho. Se os jovens qualificados, portanto, até aos 34 anos, representarem apenas entre 20 a 40% da força de trabalho, não há impactos relevantes e se for inferior a 10%, até pode haver diminuição da produtividade de uma empresa.”
A pandemia teve consequências?
Segundo o estudo, durante a pandemia, “o emprego dos jovens foi o mais afetado e ainda não tinha recuperado totalmente no último trimestre de 2021, com perdas de 27.500 empregos face ao mesmo trimestre de 2019”.
Além do impacto nos jovens no mercado de trabalho, a crise sanitária dificultou a entrada dos jovens no mercado de trabalho.
“Em 2021, apenas 74% dos jovens entre os 20 e os 34 anos que tinham completado um nível de escolaridade nos últimos três anos estavam empregados, uma queda acentuada face a 2019 que interrompe a tendência positiva que se vinha a verificar desde 2012”, pode ler-se no relatório.
A queda foi mais acentuada entre os que terminaram um curso superior, apesar da taxa de emprego dos recém-diplomados continuar acima dos que terminaram o ensino secundário.
Além de penalizar a entrada no mercado de trabalho dos jovens, diz o estudo, “a pandemia teve implicações na aquisição e no reforço de competências em diferentes fases da vida, comprometendo o futuro profissional de indivíduos e trabalhadores e também o crescimento económico do país”.