INTRODUÇÃO
O processo de socialização é marca clara da existência de grupos sociais onde a necessidade de se estabelecer um conjunto de normas, regras e procedimentos exige de cada elemento integrante do grupo a obrigatoriedade de se adapatar por via assimilação de novas formas de estar, ser e fazer onde a formação é o caminho mais claro e objectivo de facilitar o processo de socialização, quer em grupos primários (famílias, amigos), quer em grupos secundários (igreja, grupo profissionais) ou até mesmo intermediários (escola).
A formação enquanto processo de socialização tem as suas marcas claras onde apesar da existência de variáveis transversais a todos os processos de formação existe variáveis muitos particulares que se destacam em função do grupo de participantes, da modalidade, do contexto em que se realiza e, principalmente, da dimensão cultural do local onde se realiza e que exigem uma atenção especial.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Segundo a Lei de Bases do Sistema Nacional de Formação de Angola a formação é definida como sendo o processo através do qual jovens e adultos adquirem e desenvolvem conhecimentos gerais e técnicos, atitudes e práticas relacionadas directamente com o exercício de uma profissão. O mesmo diploma reforça que a formação profissional visa facilitar a melhor integração do individuo na vida activa, podendo contemplar vários níveis e desenvolver – se por várias modalidades. A formação profissional é claramente um instrumento importante no desenvolvimento de competências individual e, consequentemente, um instrumento de promoção do desenvolvimento económico, cultural e social de um país. Pela importância que apresenta a formação profissional assume – se uma responsabilidade maior nos agentes envolventes do processo, pois o seu impacto é significativo, porém há um conjunto de desafios que o Sistema Nacional de Formação Profissional de Angola a partida enfrenta, dentre os quais destacamos:
- A acessibilidade geográfica e financeira dos interessados ao processo de formação profissional;
- A qualidade do processo formativo;
- A capacitação de todos os intervenientes (formadores, gestores, técnicos administrativos) do processo formativo;
- O sistema de empregabilidade e remuneração da Administração Pública angolana que valoriza significativamente a formação acadêmica em prejuízo a formação profissional;
- A fraca valorização da formação profissional pois, mais vale um conjunto de conhecimentos adquiridos em sala de aula do que um conjunto de competências adquiridas em sessão formativa.
A formação profissional no contexto angolano antes da pandemia causada pelo vírus Sars Cov 2 ou Covid 19 já enfrentava enormes desafios o que claramente veio agudizar com a pandemia que teve o seu início em 2019 mas, que em Angola veio se intensificar em 2020 onde na segunda quinzena do mês de Março na sexta – feira 25 foi decretado o primeiro confinamento e, claramente, Angola parou literalmente e com ela a formação profissional também parou. Parou a formação, porém parou, praticamente, todo o sector social e económico, todavia, parar não é característica cultural do angolano que se apresenta ao mundo como um povo bastante entusiasta, enérgico e afectuoso, por isso, cada um a sua maneira, com os meios que tinha disponível começou a se reinventar e, em todos os sectores não foi diferente, porém para muitos foi complicado, pois não tinham um ponto de partida porém, ficar parado não foi a solução daí foram introduzidos na formação profissional novos conceitos e métodos, entrou no léxico de muitos formadores o conceito de e – formador, webinar, plataforma de ensino a distância e em muitos casos as lives . Com todas a novidades surge a necessidade de diferenciar a formação profissional por via de plataformas de ensino a distância (formação a distância) e outros fenómenos similares e, por via de decreto executivo o Ministério da Administração Pública Trabalho e Segurança Social faz essa diferenciação e apresenta as condições técnicas e metodológicas para o processo de formação profissional via plataforma de ensino a distância.
DESAFIOS DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM ÉPOCA DE PANDEMIA
A Pandemia Covid 19 veio desafiar a todos e a tudo, desde governos, sistemas de saúde, sistemas de ensino, a humanidade em cada homem, as políticas e os políticos, a capacidade de se reinventar, o compromisso organizacional, a ética e a moral porém, veio criar um ambiente de oportunidades para novas maneiras e formas de comunicar e, claramente, a tecnologia foi uma das grandes ferramentas que permitiu de forma positiva responder a esses desafios. Os desafios no Sistema de Formação Profissional Angolano, anteriormente citados, aumentaram exponencialmente, pois se anteriormente a formação já era pouco acessível para alguns tornou – se impossível, porém dentre os vários desafios da formação em época de pandemia no Sistema de Formação Profissional Angolano podemos destacar:
- O baixo número de profissionais com competências tecnológicas e pedagógicas para formar por via de plataformas de ensino a distância – um exemplo claro deste facto é a formação pedagógica de formador em ensino a distância (e – formador) que até o início do ano de 2020 não havia nenhuma instituição (conhecida) que ministrava, apesar que na data presente o Centro Nacional de Formação de Formadores já ministrar, ainda é insuficiente, pois o número de acções ainda não responde a necessidade gritante de formadores que ministram formação sem competências técnicas e pedagógicas a nível da formação a distância e sem a certificação devida;
- O baixo (fraco) número de profissionais com competências administrativas, técnicas e tecnológicas para gerir de forma eficaz e eficiente cursos ministrados por via de plataformas de ensino a distância – até onde sabemos, não há nenhuma ou se há é ínfimo o número de instituições ou centros de formação profissional (pelo menos conhecidas) que ministrem o curso para gestores de formação a distância;
- O fraco investimento em recursos técnicos e tecnológicos para o ensino a distância – o rácio entre o acesso de pessoas ao computador e outros recursos tecnológicos existentes e o número da população angolano que acede o Sistema Nacional de Formação Profissional ainda é assustador;
- A dimensão cultural – o angolano tem na sua base cultural a afectividade como sendo o traço significativo o que cria em cada de angolano de modo particular a necessidade de relações mais próximas onde o intermediário (tecnologia) pode ser uma barreira para uma comunicação mais eficiente, por isso, a formação a distância é si um grande desafio no nosso contexto e, principalmente, em épocas da pandemia em que pessoas quase que não tinham contacto algum com outras pessoas fora do ciclo familiar. E muitos, quer no papel de formandos ou de formadores, demonstraram as suas insatisfações com a formação pois, consideravam como sendo muito monótonas, frias, distantes e sem grande motivo de interesse;
- O avanço tecnológico – surgiram na época da pandemia milhares de iniciativas e descobertas tecnológicas ligadas as plataformas de comunicação a distância o que em si foi grande ajuda porém, no contexto angolano em que a literacia tecnológica (competências básicas a nível da informática) em muitos casos mostra – se inexistente foi mais desafiante, pois enquanto alguns lutam em dominar a plataforma zoom (importa fazer referência que não é uma plataforma de ensino a distância apesar de no período da pandemia ser muito adapatada para esse fim) outros lutam em adquirir competências básicas de informática.
A formação profissional com recursos a plataformas de ensino a distância é o caminho que pode facilitar de forma significativa o desenvolvimento de todo Sistema Nacional de Formação Profissional porém, é uma solução que apresenta enormes desafios na sua materialização, por isso, um conjunto de medidas devem ser adoptadas para que a formação a distância seja uma realidade em Angola que permitirá o acesso de milhares de angolanos à formação profissional e, consequentemente, ser um instrumento da promoção do desenvolvimento económico, social e da integração e de acesso de competências fundamentais e especializadas.
CONCLUSÕES E RECOMEDAÇÕES
A análise dos vários desafios que a formação profissional teve em tempos de pandemia nos permitiu identificar a proposta de algumas conclusões e recomendações:
- O futuro é digital e não há retorno pois, a resposta rápida e eficiente que permitiu em época da pandemia a existência da formação profissional foi claramente a aposta na formação com recursos as plataformas digitais;
- A digitalização de processos exige um investimento sério e urgente na formação de profissionais capazes de dar resposta técnica e tecnológica à disseminação das competências fundamentais para exercício eficiente e eficaz de qualquer actividade profissional e, consequentemente, permitirá a maior acessibilidade ao sistema nacional de formação profissional;
- Há necessidade do reforço de todo o sistema nacional de formação profissional por via da definição de perfis dos seus operadores (formadores, gestores, assistentes administrativos) de formas a identificar os gaps existentes entre o perfil real (actual) e a necessidade de potencialização através de processos formativos contínuos com a finalidade de se adaptar os operadores as exigências actuais e alinhar com o perfil ideal que responda aos grandes desafios que enfrenta a formação de profissional de quadros em Angola;
- O processo de digitalização deve ser transversal a todos os beneficiários do Sistema Nacional de Formação Profissional, por isso, deve entrar nas grelhas curriculares dos diferentes sistemas de ensino e da formação profissional as competências tecnológicas como competências fundamentais.
Autor: António Jorge Capemba
Data: 10/03/2022.