Já ninguém tem dúvidas que os desafios que as empresas enfrentam na atualidade, em particular as industriais, mas também as que atuam na área dos transportes e logística, exigem pessoas qualificadas, ou mesmo altamente qualificadas.
De facto, poucos fatores contribuem tanto para aumentar a capacidade e a competitividade das empresas como a adequada formação das suas pessoas. Mas se isto foi sempre uma verdade de La Palice, hoje torna-se ainda mais evidente: a automatização, a IoT, a Inteligência Artificial, o Machine Learning, o Big Data, as mudanças nas cadeias de abastecimento e processos logísticos, a reorganização da geografia económica mundial, entre muitos outros, são temas que exigem soluções rápidas e eficazes, no que à formação das pessoas diz respeito, capazes de responder em tempo útil aos desafios que as empresas enfrentam.
É neste cenário, em que muitas profissões tendem a ser substituídas por outras, ainda que não se saiba quais, em que não encontramos no mercado profissionais disponíveis e muito menos com as competências necessárias, que a qualificação e requalificação dos Recursos Humanos assume um papel fundamental e urgente para as empresas, mas também para os atuais e futuros profissionais.
Houve tempos, há não muito tempo, em que as nossas empresas conseguiam recrutar, com alguma facilidade, os profissionais de que necessitavam, fruto, em parte, das elevadas taxas de desemprego. Ainda que para algumas funções fosse mais difícil, sempre se ia conseguindo encontrar no mercado os perfis pretendidos. E nem precisavam de se preocupar muito com programas de formação e de integração.
…já não faltam apenas especialistas nos mercados, faltam candidatos para processos de recrutamento, mesmo sem as competências que as empresas procuram.
Hoje, a realidade é completamente diferente. E se ainda tivermos dúvidas, basta olharmos para os vários dados e estudos que vão sendo publicados, para concluirmos que há um grande desfasamento entre as necessidades das empresas e os profissionais disponíveis. Um exemplo disso, são os resultados do Guia do Mercado Laboral 2023 da Hays, que teve como base as respostas de mais de 800 empregadores e de 3 100 profissionais, e que refere uma “escassez global de candidatos, ou de profissionais especificamente qualificados, no mercado de trabalho português em 2022. De uma lista de 11 afirmações disponíveis no inquérito, as duas que reuniram mais consenso entre os inquiridos referem-se à escassez de talento no mercado: seja uma escassez global de candidatos, ou de profissionais especificamente qualificados”. Como referido antes, isto significa que já não faltam apenas especialistas nos mercados, faltam candidatos para processos de recrutamento, mesmo sem as competências que as empresas procuram.
Foi neste contexto que passamos a ouvir falar de novos conceitos e da necessidade urgente de os pôr em prática: o reskilling e o upskilling passaram a integrar a linguagem dos profissionais ligados à formação profissional e, de forma mais ampla, à gestão de Recursos Humanos. Não havendo profissionais disponíveis com as competências adequadas, a solução passa por recorrer a processos de formação profissional que permitam, de forma rápida, aumentar as qualificações das pessoas que estão disponíveis, ou mesmo requalificá-las para novas áreas, diferentes daquelas em que possuem qualificação ou experiência. Se antes, todos (ou quase todos!) concordávamos que era importante o investimento na formação e qualificação das pessoas, hoje já não podem restar dúvidas que mais do que importante passou a ser fundamental. Caso contrário, as empresas arriscam-se a não serem capazes de cumprir os seus objetivos e planos e, muito menos, manterem-se competitivas. Arriscam-se a não terem pessoas capazes e suficientes para conseguirem tirar toda a rentabilidade dos investimentos e desenvolvimentos que vão sendo feitos em tecnologias, equipamentos, infraestruturas, novos processos, etc..
Posto isto, resta ainda saber como e quem deve assumir a responsabilidade de desenvolver e implementar estes programas de formação e qualificação. Deixarei para outra ocasião a partilha da minha visão sobre esta questão, se depois deste meu primeiro texto em tão notável publicação, os seus responsáveis ainda mantiverem o convite!
ELÍSIO SILVA
Diretor da DUAL – Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã;
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