A “espontaneidade é provavelmente insubstituível” em teletrabalho, diz uma especialista. E a comunicação não é tão “fluida”, dizem os recém-contratados. Por isso, as empresas têm de criar momentos para lá das “reuniões de trabalho” — e “falta subir alguns degraus” nesse sentido.
Quando a pandemia fez meio mundo de gente fechar-se em casa, há quase um ano, Mafalda Girão ficou sem emprego. Incertezas e quebras nas receitas terão levado a empresa em que trabalhava a “dispensar pessoas” — uma delas foi a gestora de redes sociais de 27 anos, que na altura ainda se encontrava “na fase experimental”. Um par de meses depois, voltou ao mercado de trabalho, à boleia da agência de marketing e comunicação Euro M. O mesmo motivo que a atirou para o desemprego acabou, de certa forma, por abrir as portas para outra oportunidade: “Para algumas empresas, isto correu muito mal. Para outras, fez alavancar a área digital. E a empresa em que estou agora contratou várias pessoas por esse motivo.”
Só que, desta vez, a integração na equipa fez-se de forma diferente: tal como o 1,1 milhão de portugueses que passaram a trabalhar a partir de casa no segundo semestre de 2020, Mafalda ficou a saber, então, de que se tratava o regime de teletrabalho. “Conheci a chefia presencialmente, mas o resto da equipa conheci virtualmente. Não tive problemas. Claro que é sempre diferente, mas foi bastante tranquilo e acho que me adaptei muito facilmente”, conta a viseense a viver em Lisboa. Para Mafalda, os únicos “momentos mais complicados” aconteceram justamente nos primeiros dias, quando não sabia “com quem falar” — algo que, conta, foi “sempre ultrapassável”.
Significa isto que criar ligações com os colegas através de uma webcam é fácil? Depende dos casos. Para Maria Pico-Pérez, neurocientista e investigadora da Escola de Medicina da Universidade do Minho (UMinho), tal poderá ser “um desafio maior” para “as pessoas que estão a iniciar um novo emprego”. Por isso, “para quem já tivesse a sua rede de apoio social criada” no trabalho, antes da pandemia, será mais fácil. Contudo, na opinião da investigadora, a maior dificuldade na criação dessas relações será mesmo “a falta de oportunidades de partilha social mais espontâneas”. Já não há “os dez ou 15 minutos ao chegar ao trabalho em que cumprimentávamos os colegas” ou as “pausas para o café”, que “serviam para o novo trabalhador se ir integrando pouco a pouco na equipa”. Essa “espontaneidade é provavelmente insubstituível num regime de teletrabalho”.
Fonte e mais informações: https://www.publico.pt/2021/02/23/p3/noticia/criam-relacoes-novos-colegas-trabalho-distancia-webcam-1949762